A experiência do parto transformou a minha maternidade

Quando fui mãe pela primeira vez eu tinha 26 anos, era recém-formada, precisava equilibrava o início da jornada profissional com a gestação. Viajava todos os dias para chegar ao meu local de trabalho, vivia com sono e os momentos que me permitia pensar no parto, quase sempre eram acompanhados de receios e medo. Eu travei aqui. Meu apoio era quase nulo e eu não busquei mais informações além daquilo que recebia nas consultas do meu pré-natal, na época, particular.
Pensar a dor do parto que eu não tinha vivido já me consumia. Era demais pra mim naquela época dar conta de tudo.

Com 37 semanas de gestação, nasceu meu filho, Matheus. A via de nascimento foi uma cesárea sem indicação e necessidade. Mas para mim, não cabia nada diferente. Me tornei mãe. Matheus foi colocado ao meu lado, rosto com rosto. Fomos nos encontrar de novo na sala de recuperação, quando ficamos juntos por um tempo, eu sozinha na sala, ele deitado sobre mim, eu anestesiada da cintura pra baixo, sensação estranha, era tudo o que eu pensava. Amamentar naquela situação, como? Então, o quê decorreu foi que eu não consegui amamentar o Matheus, essa foi minha primeira grande decepção, a época, eu me culpava. Surgiam às dúvidas, teria sido o melhor para nós essa cesárea?

Por longos anos fui mãe solo. A maternidade do primeiro filho me fez mais forte como mulher. Na jornada solitária da maternidade, meu apoio ímpar, sempre foi poder contar com a minha mãe.

Em 2018 descobri que estava grávida do segundo filho. Lá estava eu esbarrando nos mesmos temores da gestação novamente. O parto ainda era elaborado por mim, como novamente, para ser uma cesárea, mesmo com dúvidas se era realmente o melhor. Mas, por ironias ou não do destino, a segunda gestação foi completamente diferente.

Passavam as semanas da gravidez e meu acompanhamento que ocorria pelo SUS, já me tirava da zona de conforto. A ginecologista me questionou claramente na consulta por que eu buscaria uma cirurgia se o melhor pra mim e para o bebê era um parto normal?

A pergunta que parece tão simples e hoje já tão clara de ser interpretada, a mim, ainda não era. Eu tinha um bloqueio. Comecei a elaborar a ideia do parto e conversando com meu companheiro, aquilo que era um medo, começou a tomar espaço de  possibilidade.

Busquei naquelas que eu sabia que seriam minhas referências e apoio necessário, a opinião e, confesso, a força necessária. Ouvi minha mãe e minha irmã. Também delas recebi o conselho que foi meu grande suporte para chegar ao meu parto, busquei uma Doula para me auxiliar.

Nesse movimento para encarar o parto, comecei a romper com aqueles medos que eu ganhei lá atrás. Fortalecer meus laços afetivos com meu filho mais velho me ajudou nessa jornada. Fazia sentido pra mim, olhar pra ele e perceber que eu tinha um compromisso em tentar o parto, meus filhos merecem um dia ouvir essa história, eu mereço parir.

Os dias que antecederam o nascimento do André forma marcados por pródomos doloridos e que não deram trégua até o parto. Nada mais me deixava confortável. Já eram 40 semanas, e então eu entendi que maternar também é respeitar o tempo para nascer.

Quando comecei a viver meu trabalho de parto, protagonizei com a minha mãe momentos de intensidade e força única, entre cada contração ela entrou para o chuveiro comigo, e eu, queria desistir, ela foi minha mãe. A maternidade é apoio.

O parto do André aconteceu. Nele vivi a maior dor que já senti. Nele me superei como nunca achei que um dia conseguiria. Me superei como mulher para mudar meu destino como mãe. Via de nascimento não é apenas sobre o amor. É sobre superação também. O meu parto foi natural, me ressignificou como mãe. Fui feroz. Foi meu atestado de fortaleza. Meu parto me deu o direito a amamentar. Foi único e genuíno como todo amor de mãe é.

Parir é potência. Me fez mãe pela segunda vez, com todas as sensações a flor da pele, com a cria nos braços, com meus gritos e gemidos, nosso primeiro encontro ficou marcado no tempo.

Mães se superam diariamente por seus filhos. Amo os meus cada dia mais, cada um a sua forma.

Meu nome é Jamile Garcia, tenho 38 anos, sou mãe do Matheus de 11 anos e do André de 11 meses.

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